sexta-feira, 6 de abril de 2007

IPO's: A Festa Acabou?

Até meados de março, praticamente todas as IPO's ocorridas nos últimos meses eram uma festa de lucros excelentes. Em um único dia, era possível ganhar muito mais do que o rendimento dos fundos de renda fixa de todo o ano de 2006. Para ficar apenas entre as melhores, podemos citar a GVT, que valorizou 27,22% no dia do lançamento, a Anhanguera, com 21,39%, a Rodobens, com 16,67%, e assim por diante. A São Martinho, que rendeu 18,3% no primeiro dia, chegou a quase 30% nos dois dias seguintes.

Em 2007, dos 8 lançamentos ocorridos, apenas a Camargo Correa foi uma decepção, com uma desvalorização de 2,14%. Enfim, participar de uma IPO era quase uma certeza de ganho fácil.

Em fóruns que participo, alguns investidores com maior conhecimento de mercado estavam "indignados" com a situação. Muitas das empresas estavam com os valores de seus papéis sobrevalorizados já no bookbuilding e mesmo assim ainda conseguiam valorizações fora da realidade. Eu lia posts de vários membros que diziam que haviam parado de fazer qualquer análise dos papéis, pois o mercado estava comprador de qualquer forma e o lucro era garantido.

Mas, como o mercado sempre se ajusta à essas anomalias, a situação começou a mudar com o lançamento dos papéis da Friboi em 29 de março. Com a estimativa de seus papéis em R$ 6,2 bilhões, mais do que o valor da Perdigão e da Sadia, pareceu que os investidores acordaram e tomaram consciência que um lançamento precisa respeitar certos limites e que os donos não podem simplesmente pedir o valor que quiserem pela empresa.

Com uma desvalorização de 12,5%, as ações da Friboi foram o maior fiasco da Bovespa em um IPO desde 2004. No dia 2 de abril, os lançamentos do Banco Pine e da Even (desvalorizações de 2,11% e 3,48% respectivamente) acabaram sendo contaminados pelo clima de incerteza gerado pela Friboi.

Após três lançamentos consecutivos com desvalorização dos papéis de suas empresas, todos começaram a se perguntar sobre como se comportariam os IPO's seguintes. Felizmente, dia 5 de abril, na véspera do feriado de páscoa, o lançamento da BR Malls alcançou a valorização de 5,33% em um único dia, mostrando que não haveria um clima de pessimismo generalizado no mercado.

A BR Malls é uma das líderes do setor de Shopping Centers no Brasil e só não atua no norte do país. Apesar do valor das ações ter ficado no teto do estipulados pelos coordenadores do lançamento (estimado entre R$ 11,00 e R$ 15,00, acabou sendo lançada pelo topo), vários analistas consideraram que ela ainda possuia um bom potencial de crescimento. Motivo provável para sua boa aceitação pelos investidores institucionais.

Assim, aparentemente o mercado mostrou que existe sim uma forte demanda por novas ações, porém a partir de agora os investidores deverão ficar mais atentos em relação aos fundamentos de cada papel.

Aos que estão começando, antes de entrar em um IPO, leiam os prospectos das empresas e procurem saber se o valor da ação está dentro do aceitável ou se está sobrevalorizado (fóruns de discussão continuam sendo um bom local para conseguir essas informações). Atentem também para o potencial de crescimento da empresa, pois isso é um dos maiores indicadores de valorização (os grandes investidores, que são os que irão derrubar ou subir o valor dos papéis, somente ficarão com os mesmos se a empresa possui fundamentos financeiros concretos para indicar seu crescimento). Se não tiver certeza, converse com o seu corretor, pois normalmente ele possui informações mais detalhadas sobre esses papéis.

Provavelmente os lançamentos de ações ainda serão um bom negócio durante o ano de 2007. Só que agora exigirão um pouco mais de atenção e planejamento por parte dos investidores...


Em tempo: uma dica para quem participa de um IPO é verificar como se dá a sua abertura no pregão. Se o papel já iniciar em baixa, desfaça-se do mesmo imediatamente, para diminuir os prejuízos. Dificilmente uma ação que abre em baixa consegue reverter sua tendência. Assim, assuma a perda e espere uma oportunidade de recupera-la em outra operação. Afinal, não se pode ganhar sempre e é muito importante estar consciente do momento certo para "pular fora do barco".