sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Ações: Aplicar Diretamente ou Via Fundos

Recebi o e-mail abaixo do Gérson e como as dúvidas dele são parecidas com as de outros leitores do blog, resolvi colocar a resposta em forma de artigo:

"Li algumas matérias no Mercado Em Ação e há muito tenho pensando em entrar com algum investimento na bolsa. Tenho conta na Caixa e baixo salário. Você acha que seria interessante e lucrativo aplicar no Tesouro Direto da Caixa? Vi também que você propôs a Geração Futuro, que tem tido bons resultados. Não compreendo quase nada, portanto, qual seria a diferença em aplicar num banco que tem muito tempo de estrutura (Caixa) ou aplicar numa equipe ou Clube de Investimento?"

Vamos por partes:


Ações

De 2002 até meados de 2007 o mercado de ações estava só subindo. Mesmo com as eventuais quedas causadas pelas realizações de lucros, aplicar em papéis de empresas com Petrobrás, Vale, Usiminas, Bradesco, entre outros, era sinônimo de lucro praticamente certo e altos rendimentos.


Com o estouro da crise norte-americana no segundo semestre de 2007, causado principalmente pelos "calotes" nas hipotecas feitas para o mercado sub-prime (empréstimos para pessoas sem histórico de crédito e renda incerta), as bolsas do mundo inteiro foram afetadas.

O Brasil, felizmente, acabou sofrendo menos do que muitos esperavam. Mas, de qualquer forma, foi suficiente para interromper o ciclo de altas constantes e "devolver" uma parte razoável dos ganhos auferidos nos últimos tempos.
Segundo estimativas de alguns corretores, ações como as da Petrobrás e da Vale estariam valendo hoje até 30% menos do que deveriam. Isso indicaria um momento para compra dos papéis, já que não existem problemas operacionais que justificassem essas quedas (os lucros de ambas as empresas só crescem).

Entretanto, em uma matéria da revista Exame desse mês, ha uma citação de Warren Buffet
onde ele diz que agora ainda não é um bom momento para entrar na bolsa, pois ocorrerá muita oscilação no mercado financeiro até meados de 2009, quando o ambiente deve começar a estabilizar. É óbvio que ninguém sabe com exatidão quando essa crise vai passar e um novo ciclo de alta será retomado. Mas os conselhos do Buffet devem ser, no mínimo, levados em consideração.

Assim, é preciso avaliar se você pretende aplicar pensando em médio ou longo prazo (acima de um ano).
No médio prazo (até o final do primeiro semestre do próximo ano), ainda podem ocorrer outras quedas. Se você precisar sacar o dinheiro antes do mercado estabilizar, pode ter que sair no prejuízo. No longo prazo, mesmo essas oscilações podem não ter muita influência, pois eventuais quedas seriam compensadas pelos dividendos pagos e pela recuperação que é muito provável que ocorra (não esqueça que estamos falando de empresas muito lucrativas).

Porém, cada um tem sua própria estratégia: em março desse ano vendi todas as ações que tinha e apliquei em 2 fundos de ações (Geração Futuro e Sparta Cicilico
). Não me arrependi dessa decisão (o Sparta rendeu mais de 100% nesses 4 meses) e só pretendo voltar a aplicar diretamente daqui a um ano.

Fundos de Ações

Nesse caso, você tem pessoas especializadas para aplicar para você e teoricamente teria um rendimento maior do que aplicando diretamente na bolsa. Na prática, isso nem sempre acontece, pois os fundos, como precisam aplicar centenas de milhões de Reais, muitas vezes não conseguem se desfazer de uma posição (vender todos os papéis) com a agilidade necessária.

Um exemplo: digamos que você tenha R$ 100 mil aplicado na Petrobrás e fica sabendo que vai ter uma queda no papel. Se você vender todas as suas ações, não irá influenciar em nada a cotação, pois valores superiores a isso são negociados no intervalo de alguns minutos. Agora imagine que os analistas da Caixa ou da Gera Futuro, sabendo dessa informação, resolvam vender as milhões de ações que eles tem da Petrobrás de uma só vez: isso poderia derrubar a cotação do papel e eles teriam um bom prejuízo. Ou seja, esses grandes players precisam comprar e vender com mais calma, pensando sempre no médio e longo prazo. Só que com isso eles perdem a agilidade necessária para lucrar nas oscilações menores.


É claro que o mercado é mais complexo do que o exemplo dado acima, porém serve para você ter uma idéia...


Sobre as vantagens de se aplicar na Caixa ou Geração Futuro


A Caixa (ou qualquer outro banco onde você for correntista) te proporciona a facilidade de aplicar/resgatar usando o seu internet banking ou ATM. Além disso, se o fundo em questão estiver aplicando em papéis de empresas como Petrobrás e Vale, as chances de você ter um bom lucro são razoáveis. E, o mais importante, sem precisar passar várias horas por dia acompanhando as cotações no home-broker (nem sempre o chefe fica feliz ao ver um funcionário passando boa parte do dia acompanhando as cotações para saber a melhor hora de comprar ou vender).


No caso da Geração Futuro, é necessário fazer um cadastro, enviar cópia autenticada dos seus documentos por SEDEX e fazer uma TED para o Bradesco (onde fica a conta da corretora). E, como eles aplicam uma considerável parte do fundo em small caps (empresas de médio porte), os riscos são um pouco maiores em períodos como o atual, em que o mercado desvalorizou demais essas empresas (quando há crises fortes, a tendência dos grandes investidores é vender seus papéis de small caps e comprar blue chips, que possuem maior liquidez).

Em compensação, quando o mercado se recuperar, é boa a probabilidade das small caps terem uma valorização maior, o que beneficiará a Geração Futuro.


Tesouro Direto


É um tipo de aplicação de renda fixa, onde você compra os papéis do governo diretamente (mas através de um banco ou corretora). O risco é praticamente zero (somente se o governo quebrar ou der um calote, o que é extremamente improvável na situação atual do Brasil) e a rentabilidade é razoável.

Nesse caso, como é uma espécie de commodity (o produto é o mesmo independente de quem intermedia a operação), vale a pena aplicar em quem cobrar a menor taxa de administração (a Geração Futuro cobra apenas 0,3%).

Ou, se o valor a aplicar for muito baixo, com quem oferecer mais comodidade (no seu banco, você pode fazer uma transferência sem custos, enquanto que na GF vai precisar executar uma TED)
.

Conclusão:

Aplicar diretamente em ações envolve mais riscos (mas os ganhos podem ser maiores também) e exige que você disponha de tempo para acompanhar e um capital maior par aplicar.

Como estamos em um período de alta volatilidade, desaconselho essa estratégia para iniciantes.


Aplicar em Fundos de Ações de bancos de primeira linha significa maior comodidade (e segurança), mas existe a possibilidade de se ganhar menos do que em um fundo da Geração Futuro no
longo prazo (devido, principalmente, a estratégia mais agressiva da GF). Mas, em qualquer um dos dois, acredito que estará fazendo uma boa aplicação.

Agora, se for precisar desse dinheiro para um período inferior a 6 meses, tem aversão ao risco ou fica desesperado ao ver seus papéis só caindo por períodos de vários meses, aplique em renda fixa, como o Tesouro Direto.
Pode ganhar menos, porém vai dormir mais tranquilo...

E uma ressalva: se for aplicar em Clubes de Investimento (principalmente os administrados por pessoas físicas), tenha certeza da competência do administrador, para não "entrar em uma roubada"...

PS: Não esqueça que diversificar é a melhor estratégia para quem quer correr menos riscos. Se resolver aplicar em ações (diretamente ou via fundos), procure deixar também uma parte em renda fixa, como o Tesouro Direto.