Quando o assunto é investigação, a tecnologia da informação (TI) tem sido forte aliada na recuperação de dispositivos móveis e automóveis, e ainda na localização de criminosos a partir de sistemas de rastreamento. Agora, ela se une à Resolução 245, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), que torna obrigatória a instalação de equipamento antifurto em veículos novos nacionais e estrangeiros no País.
Embora hoje exista a possibilidade do uso do recurso, a novidade é que a tecnologia será embarcada. Desde a saída da fábrica, o veículo abrigará um sistema nacional de prevenção, fiscalização e repressão ao furto e roubo.
Quando passar a valer [segundo o Denatran, a partir de 30 de junho de 2014 todos os veículos só poderão ser licenciados com a instalação da placa eletrônica], a resolução movimentará toda a cadeia de valor envolvida: fabricantes de chip, montadoras, operadoras de telefonia, seguradoras e provedoras de serviços de TIV [empresas que fazem a gestão do rastreamento de automóveis].
Interessante é que, mesmo embarcado no automóvel [veículos leves, caminhões e motocicletas], o dispositivo antifurto somente será ativado na função rastreamento com a autorização do dono do veículo. E todas as informações do usuário serão protegidas por chaves de acesso.
O chip que será implantado no veículo é do Denatran, portanto, poderá ser habilitado em qualquer operadora. Não envolve o usuário. Ele nem mesmo saberá qual operadora estará no processo. A sua interface será sempre a seguradora. O procedimento de ativação do chip de rastreamento será feito de forma remota, sem acesso físico ao dispositivo, o que agiliza o serviço. “O equipamento antifruto só poderá ser configurado para comunicação sem fio pelo Denatran”, esclarece o órgão. E a TIV é quem ficará responsável pelo rastreamento.
A inovação no setor está nessa liberdade de a operadora poder ser substituída a qualquer momento pela seguradora [caso também seja uma TIV] ou TIV, sem que o usuário perceba ou tenha de fazer qualquer tipo de substituição no veículo, destaca Ramzi Abdine, da Cinterion, empresa da Gemalto que atua no setor módulos de comunicação celular máquina a máquina (M2M). “Hoje, o cartão das operadoras de telefonia móvel devem ser substituídos no momento da troca. Nos automóveis não. Por isso, ele é mais robusto e soldado dentro do aparelho rastreador”, explica.
A Cinterion, diz o executivo, está aquecendo as turbinas para ingressar na modalidade. “Estamos participando da licitação para que possamos ser provedores do chip embarcado. Nos preparamos para atuar na cadeia do projeto, em capacidade e em tecnologia”, garante.
De acordo com Abdine, a companhia participou de um projeto-piloto há cerca de dois anos para provar que a tecnologia atenderá às expectativas do Denatran. “Agora, aguardamos, assim como toda a cadeia de fornecedores. Mesmo que não ganhemos a licitação, sabemos que a iniciativa terá grande impacto no mercado. Hoje, são poucos projetos de M2M que têm essa escala”, assinala.
Em aquecimento para entrarem em campo, também estão as operadoras, que irão prover a linha do chip. A Vivo é uma delas. “Vamos ficar na vitrine para as seguradoras ou TIVs, pois a escolha da operadora ficará nas mãos dessas companhias”, aponta Maurício Azevedo, diretor-executivo para o segmento de grandes empresas da Vivo.
Ele explica que a seguradora tem a possibilidade de fazer acordo com operadoras, que provê conectividade, ou TIVs. “Nesse quadro, é fundamental que a tele tenha abrangência de cobertura e esse é nosso diferencial. Somos a com maior alcance em solo nacional. Estamos em linha”, diz.
Segundo o executivo, uma das grandes características da tecnologia embarcada é a confiabilidade porque lida com questões sensíveis e o serviço precisa funcionar em tempo integral e isso só pode ser oferecido por meio da estabilidade da rede, reforça.
“Realizamos investimentos para garantir uma estratégia M2M robusta e com questões de segurança bem-definidas. Vamos prover conectividade por veículo por chip ativado, mas existem diversos desenvolvimentos futuros para que possamos avançar nessa cadeia e começar a oferecer serviços em cima dessa conectividade”, afirma.
Uma das ideias, prossegue, é que por meio de uma plataforma a operadora gere informações para que as seguradoras consigam ter todos os relatórios do que está acontecendo com a conectividade para garantir melhor prestação de serviço.
Quando essa roda girar, as expectativas da Vivo são altas. “A cada ano, 4 milhões de veículos novos são colocados no mercado. É um potencial relevante de atuação para nós”, assinala.
Na mesma esteira, está a Oi. “A venda da conectividade se mostra um negócio interessante pela escala em relação a usuários. Seria um mercado na faixa de 100 milhões de reais ao ano”, afirma Ronaldo Motta, diretor de Marketing do Corporativo da Oi. Segundo ele, para ingressar nesse universo a companhia não precisou direcionar aporte para desenvolvimentos de rede. “Pegamos carona nos investimentos que já acontecem tipicamente para ampliação da nossa cobertura. Somente em São Paulo, o aporte nos últimos dois anos foi de quase 500 milhões de reais”, afirma.
Motta aponta que a tele está trabalhando em adequações do sistema, porque a ativação do serviço tem natureza diferente da atual. “Com a possibilidade de troca de operadora a qualquer momento, a Oi quer se posicionar de forma diferenciada na prestação do serviço. Nosso valor agregado seria a capacidade de elaboração de relatórios, suporte, parceria com outras operadoras menores para cobertura de roaming etc”, explica.
Motta ressalta que o interesse da operadora não é somente prover conectividade nesse negócio, mas sim pegar carona na escala que ele proporciona. “Considerando o montante de veículos que chega ao mercado anualmente, isso faz com que tenhamos potencialmente, com o passar do tempo, entre 3 milhões a 5 milhões de clientes todos os anos.”
O executivo afirma que a Oi também está se estruturando para reagir à eventual utilização de embaralhadores de sinal, um mecanismo que bandidos usam para deixar o módulo rastreador de forma inativa, impedindo o monitoramento. “Essas preocupações já existem em nosso dia a dia e vamos ampliar”, garante.
A possibilidade hoje de verticalização da operação e atuar como uma TIV é totalmente descartada pelo executivo. “O que temos clareza é que dificilmente uma seguradora vai querer exercer o papel da operadora na cadeia ou o contrário. Mas a seguradora pode querer ser uma TIV”, observa.
Dúvida que a Porto Seguro vive. “Em um primeiro estágio, nos habilitamos como uma TIV para fazer captura dos sinais para vender geoposição, usando a Porto Seguro Proteção e Monitoramento”, detalha José Luís F. da Silva, diretor da empresa de Proteção e Monitoramento da Porto Seguro.
Com a prorrogação do início do serviço, Silva diz que nesse período a seguradora passou a ser uma MNVO [operadora virtual] da TIM. Pela lei, afirma, uma empresa não pode atuar nas duas frentes. “Então abrimos mão de ser uma TIV”, aponta. “Hoje, fazemos a gestão de 420 mil automóveis. Se houver a possibilidade vamos atuar como monitoradora.”
De acordo com ele, o valor do seguro poderia cair caso seja comprovada, ao longo do tempo, a eficiência do serviço no que diz à recuperação do veículo. “Seguro trabalha com base na experiência. Assim, com e eficácia, automaticamente o preço da contratação cai”, projeta.
Fonte: Artigo de Déborah Oliveira e Solange Calvo para a ComputerWorld