Até onde governos e políticas públicas podem e devem ajudar start-ups e pequenas empresas? Governos de economias em crise, como a Itália, têm investido no apoio ao empreendedorismo, mas em economias em desenvolvimento, como em países da África, as políticas públicas têm de equilibrar o apoio às start-ups e às empresas consolidadas para gerar empregos.
O tema reuniu especialistas de diferentes nacionalidades no Congresso Global de Empreendedorismo, que terminou na quinta-feira (21) no Rio, reunindo 4 mil participantes, com representantes de 125 países. Para Ayla Matalon, diretora-executiva do MIT Enterprise Fórum de Israel, uma questão importante é o quanto o governo deve influenciar na criação de uma start-up.“O melhor é que tente prover a infraestrutura e influencie o mínimo possível”, disse, explicando que em Israel o governo conseguiu realçar start-ups, mas com falhas no processo. “A resposta é tente acertar, tente fornecer a melhor infraestrutura possível, e, se interferir, que seja por um tempo e, depois, dê um passo atrás”, disse. Ayla considera ainda que as grandes corporações estão operando o mundo tão bem quanto os governos. “Se a Intel decidir que vai fazer uma nova fábrica, os países vão se candidatar e ela escolherá. Os governos, em alguns casos, estão subordinados às grandes corporações. Elas são responsáveis pelo bem-estar das pessoas e devem assumir isso”, afirmou. Esperanza Lasagabaster, gerente de Inovação e Empreendedorismo do Banco Mundial, focou sua opinião na África, onde, segundo explicou, as políticas públicas têm que equilibrar estratégias para apoiar o empreendedorismo do futuro e as microempresas atuais que possam envolver indivíduos na atividade econômica em vez de conflitos. “No longo prazo, as empresas globais trarão diferenças para a economia com empregos de valor. Do ponto de vista prático, os projetos de microempresas precisam de acesso a financiamentos e de instrumentos para facilitar o treinamento. É preciso dar apoio a polos de crescimento para criar um ecossistema, ligar as empresas à economia local para ter um efeito maior.” Ela explicou que, ao contrário da África subsaariana, o Leste africano tem bom clima de investimento, e os governos avançaram no arcabouço regulatório.“O empreendedorismo tem foco na inovação, pois aqueles países herdaram um bom capital humano das economias anteriores”, disse. Patrick Lim, chefe do New Business Suppot, de Cingapura, explicou que em seu país foi preciso levar o tema do empreendedorismo às escolas para poder mudar a cultura e vencer a resistência da sociedade, focada na busca de empregos formais e tradicionais. “Em Cingapura, a jornada rumo ao empreendedorismo começou em 2000. A China e a Índia atraíam mais investimentos, então, começamos a construir nossos próprios empreendedores, criando empregos de alto valor. Houve resistência da população adulta, pois, na época, a tradição era ser médico, advogado ou engenheiro. Então fomos às escolas apresentar empreendedores e suas experiências e histórias de sucesso”. Para ele, a iniciativa teve resultado e a cultura foi mudando, depois de mais de três mil palestras realizadas em escolas. Patrick Lim disse que é preciso semear as ideias na juventude com muito apoio da comunidade. “Os mentores vão vender a palavra do empreendedor. O governo dá o dinheiro e o empreendedor faz a cultura. Assim, estamos endossando o empreendedorismo”. Na Itália, o governo resolveu investir no empreendedorismo diminuindo a burocracia e criando um mercado mais liberal, com um novo sistema fiscal, a partir de uma lei aprovada em dezembro passado, segundo o conselheiro-chefe do Ministério do Desenvolvimento Econômico, Alessandro Fusacchia. "O governo deve interferir sim. Estimulamos o capital intelectual das universidades para que as pessoas fiquem atentas às oportunidades de abrir empresas. As pesquisas acadêmicas têm que estar conectadas com as necessidades das empresas e, mais tarde, com as do mercado global”, disse. O conselheiro do ministério afirmou ainda que tem que haver uma revolução cultural em relação ao fracasso. “Na Europa, se fracassar está morto. Mas temos que chegar à abordagem americana: se falhar, ganha experiência e vai tentar de novo. Essa cultura tem que ser mudada”, disse. Para o diretor executivo do InnovaChile, Conrad Von Ingel, os governos têm que trabalhar muito, mas sem ficar presos a modelos. No caso do Chile, uma das soluções é a migração positiva, ressaltou. “Temos que atrair talentos porque não temos cultura de empreendedores. Os empreendedores não tinham mentalidade global, só focavam em questões locais. E isso não é interessante por que o Chile como mercado é distante. Por isso investimos em trazer talentos para o país, para interagir com a cultura local, e assim termos nossos empreendedores olhando os problemas locais com visão global”, explicou. Fonte: artigo de Lilian Quaino para o G1
O tema reuniu especialistas de diferentes nacionalidades no Congresso Global de Empreendedorismo, que terminou na quinta-feira (21) no Rio, reunindo 4 mil participantes, com representantes de 125 países. Para Ayla Matalon, diretora-executiva do MIT Enterprise Fórum de Israel, uma questão importante é o quanto o governo deve influenciar na criação de uma start-up.“O melhor é que tente prover a infraestrutura e influencie o mínimo possível”, disse, explicando que em Israel o governo conseguiu realçar start-ups, mas com falhas no processo. “A resposta é tente acertar, tente fornecer a melhor infraestrutura possível, e, se interferir, que seja por um tempo e, depois, dê um passo atrás”, disse. Ayla considera ainda que as grandes corporações estão operando o mundo tão bem quanto os governos. “Se a Intel decidir que vai fazer uma nova fábrica, os países vão se candidatar e ela escolherá. Os governos, em alguns casos, estão subordinados às grandes corporações. Elas são responsáveis pelo bem-estar das pessoas e devem assumir isso”, afirmou. Esperanza Lasagabaster, gerente de Inovação e Empreendedorismo do Banco Mundial, focou sua opinião na África, onde, segundo explicou, as políticas públicas têm que equilibrar estratégias para apoiar o empreendedorismo do futuro e as microempresas atuais que possam envolver indivíduos na atividade econômica em vez de conflitos. “No longo prazo, as empresas globais trarão diferenças para a economia com empregos de valor. Do ponto de vista prático, os projetos de microempresas precisam de acesso a financiamentos e de instrumentos para facilitar o treinamento. É preciso dar apoio a polos de crescimento para criar um ecossistema, ligar as empresas à economia local para ter um efeito maior.” Ela explicou que, ao contrário da África subsaariana, o Leste africano tem bom clima de investimento, e os governos avançaram no arcabouço regulatório.“O empreendedorismo tem foco na inovação, pois aqueles países herdaram um bom capital humano das economias anteriores”, disse. Patrick Lim, chefe do New Business Suppot, de Cingapura, explicou que em seu país foi preciso levar o tema do empreendedorismo às escolas para poder mudar a cultura e vencer a resistência da sociedade, focada na busca de empregos formais e tradicionais. “Em Cingapura, a jornada rumo ao empreendedorismo começou em 2000. A China e a Índia atraíam mais investimentos, então, começamos a construir nossos próprios empreendedores, criando empregos de alto valor. Houve resistência da população adulta, pois, na época, a tradição era ser médico, advogado ou engenheiro. Então fomos às escolas apresentar empreendedores e suas experiências e histórias de sucesso”. Para ele, a iniciativa teve resultado e a cultura foi mudando, depois de mais de três mil palestras realizadas em escolas. Patrick Lim disse que é preciso semear as ideias na juventude com muito apoio da comunidade. “Os mentores vão vender a palavra do empreendedor. O governo dá o dinheiro e o empreendedor faz a cultura. Assim, estamos endossando o empreendedorismo”. Na Itália, o governo resolveu investir no empreendedorismo diminuindo a burocracia e criando um mercado mais liberal, com um novo sistema fiscal, a partir de uma lei aprovada em dezembro passado, segundo o conselheiro-chefe do Ministério do Desenvolvimento Econômico, Alessandro Fusacchia. "O governo deve interferir sim. Estimulamos o capital intelectual das universidades para que as pessoas fiquem atentas às oportunidades de abrir empresas. As pesquisas acadêmicas têm que estar conectadas com as necessidades das empresas e, mais tarde, com as do mercado global”, disse. O conselheiro do ministério afirmou ainda que tem que haver uma revolução cultural em relação ao fracasso. “Na Europa, se fracassar está morto. Mas temos que chegar à abordagem americana: se falhar, ganha experiência e vai tentar de novo. Essa cultura tem que ser mudada”, disse. Para o diretor executivo do InnovaChile, Conrad Von Ingel, os governos têm que trabalhar muito, mas sem ficar presos a modelos. No caso do Chile, uma das soluções é a migração positiva, ressaltou. “Temos que atrair talentos porque não temos cultura de empreendedores. Os empreendedores não tinham mentalidade global, só focavam em questões locais. E isso não é interessante por que o Chile como mercado é distante. Por isso investimos em trazer talentos para o país, para interagir com a cultura local, e assim termos nossos empreendedores olhando os problemas locais com visão global”, explicou. Fonte: artigo de Lilian Quaino para o G1