É um fato inédito: uma empresa brasileira no ranking de inovação do Fórum Econômico Mundial — ao lado do Twitter!
Por Elisa Corrêa
OS SÓCIOS DA CARE, UMA DAS EMPRESAS mais inovadoras do mundo: Frank de Luca, Johann Hoffaman e Wilson Pierazoli Filho
Anote este nome: Care Electric. A empresa conseguiu a façanha de se tornar a primeira no Brasil a fazer parte do ranking “Technology Pioneers”, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial com as startups mais inovadoras do mundo e divulgado no dia 3 de dezembro do ano passado. Com o projeto de um sistema de turbinas que gera energia elétrica a partir do fluxo natural das águas de um rio, a Care conquistou a quarta posição na categoria Energia e Tecnologias Ambientais. “Mandamos uma animação para explicar o funcionamento da turbina ao comitê do Fórum porque ela ainda não é produzida comercialmente, e comprovamos todas as suas funções com um protótipo”, conta o engenheiro mecânico Wilson Pierazoli Filho, 50 anos, um dos três sócios da empresa, que conta com mais dois funcionários e está incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), desde 2007. A geração de energia com baixo impacto ambiental fez com que a Care conquistasse um lugar de prestígio, ao lado do Twitter e de mais 24 empresas visionárias. As turbinas, suspensas por uma estrutura de aço, são colocadas em pontos estratégicos do rio e usam o movimento natural da água para gerar energia. A tecnologia permite que cardumes de peixes passem livremente pela estrutura, não interferindo no equilíbrio do rio. Em comparação com uma hidrelétrica tradicional, a instalação do sistema dispensa a construção de barragens, a inundação de terras, a desapropriação da população ribeirinha e o desvio do curso do rio. Outra vantagem é a rapidez. Fabricadas em aço, as partes da estrutura podem ser produzidas em série, como em uma indústria de automóveis. “Depois de feita a análise do rio, leva de oito a 12 meses para as turbinas já estarem funcionando, enquanto uma grande hidrelétrica demora, em média, entre quatro e cinco anos para ficar pronta”, diz o administrador Frank de Luca, 78 anos, americano naturalizado brasileiro. O custo de operação deve ser menor, já que as turbinas são automatizadas, controladas por sensores e câmeras e supervisionadas via internet. “O projeto da Care também é uma inovação, porque pode ter um grande impacto social ao levar eletricidade a lugares com pouco ou nenhum acesso, reduzindo a poluição causada pelo uso de óleo diesel para alimentar geradores”, afirma Rodrigo Lara, diretor do Technology Pioneers. Para o cientista austríaco Johann Hoffaman, 61 anos, radicado no Brasil desde 1987 e autor da ideia que já tem patentes no Brasil e na Europa, a questão social é a mais relevante. “Ao fazer a energia chegar às áreas remotas, será possível que as pessoas permaneçam e trabalhem onde vivem, sem precisar ir para cidades maiores. Isso pode gerar um desenvolvimento local.” Os sócios da Care agora esperam produzir comercialmente a primeira turbina. “Hoje somos detentores da ideia e da patente, mas não somos uma empresa geradora de energia. Vamos permitir o uso da tecnologia e supervisionar a construção, que deverá ser feita por outras empresas”, diz De Luca. Depois da nomeação pelo Fórum, ele garante que a Care já foi procurada por várias empresas brasileiras e europeias interessadas no projeto. “O Brasil pode fazer diferente, temos condições de criar tecnologias que evitem os desastres ambientais causados pelo desenvolvimento em outros países”, afirma Hoffaman.
CONQUISTA INÉDITA
Entenda o que é o ranking Technology Pioneers e como é o processo de seleção Para levar o Brasil pela primeira vez à lista das startups mais inovadoras do mundo, a Care Electric passou por um rigoroso processo de seleção. Foram mais de 300 empresas inscritas, analisadas por 58 peritos em tecnologia. Entres as 26 classificadas, 18 são americanas — as outras são do Brasil, da Alemanha, da Índia, de Israel, de Luxemburgo e do Reino Unido. O ranking Technology Pioneers é elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, que convidou todas as vencedoras a participar do seu encontro anual, que acontece entre os dias 27 e 31 deste mês em Davos, na Suíça.
As empresas que fazem parte do ranking costumam ter vida longa. Das 446 empresas selecionadas desde a criação do Technology Pioneers, em 2000, 370 continuam ativas. Destas, 292 operam de forma independente e 78 foram adquiridas por grandes empresas. Entre as escolhidas no passado estão Google, Mozilla, Pay Pal e Recycle Bank.
As escolhidas de 2010
Biotecnologia e Saúde
1º Aura Biosciences – EUA
2º Corventis – EUA
3º MicroCHIPS – EUA
4º Pacific Biosciences – EUA
5º Proteon Therapeutics – EUA Energia e Tecnologias Ambientais
1º BioFuelBox – EUA
2º Bloom Energy – EUA
3º Boston-Power – EUA
4º Care Electric Energia – Brasil
5º Epuramat – Luxemburgo
6º ESolar – EUA
7º Lehigh Technologies – EUA
8º Metabolix – EUA
9º Serious Materials – EUA
10º VNL – Índia Novas Mídias e Tecnologia da Informação
1º Amiando – Alemanha
2º Amobee Inc. – EUA/Israel
3º CollabNet – EUA
4º Dilithium Networks – EUA
5º Innovid – EUA/Israel
6º Obopay – EUA/Índia
7º Playfish – Inglaterra
8º Ring Central – EUA
9º StreamBase – EUA
10º Twitter – EUA
11º Ushahidi – África do Sul/QuêniaFonte: Pequenas Empresas, Grandes Negócios