sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Privatizações do setor aeroportuário entram no radar da Odebrecht

Está prevista, ainda para este mês, a elaboração de medida provisória que promete chacoalhar o setor aeroportuário, tido como um dos principais gargalos de infra-estrutura no país. Por determinação da presidente Dilma Rousseff, a construção e operação de novos terminais de aeroportos brasileiros serão entregues à iniciativa privada, com prazo de concessão estimado em 20 anos. Os de Guarulhos e Viracopos, ambos em São Paulo, estão no topo da lista de privatizações de Dilma. Mas a ideia do governo é estender a medida aos 16 aeroportos considerados vitais para a Copa do Mundo de 2014. Cabe lembrar que o custo para reforma e ampliação dos terminais que servirão ao Mundial é de R$ 5,5 bilhões, quantia que, segundo avaliação do Planalto, não poderá ser bancada inteiramente pela estatal Infraero.

A novidade anunciada nos primeiros dias do governo Dilma atiçou companhias aéreas e construtoras que orbitam no setor. Na Gol, o tema é tratado com muito cuidado. Em nota, a empresa divulga que investimentos em aeroportos não fazem parte da atividade fim da companhia, mas que se isto for “necessário para a melhoria do setor, a companhia não deixará de estudar o assunto”. Quem estuda com carinho - e já há algum tempo - o assunto são as construtoras Andrade Gutierrez e Odebrecht. A primeira lidera um consórcio que espera a autorização para a construção de um terceiro aeroporto em São Paulo, algo que ainda não foi definido pelo governo. Já o grupo Odebrecht, com a experiência de 60 anos na construção de terminais e aeroportos, criou no ano passado uma companhia cuja principal atividade é servir como um veículo de investimentos para participar de projetos de infra-estrutura. A Odebrecht TransPort (OTP), empresa especializada em concessões, mirou quatro segmentos considerados estratégicos para o país: transporte urbano (metrô e trens), portos e logística, rodovias e aeroportos. “Pensei que iria começar o ano de maneira tranqüila e estou trabalhando feito louco por conta dessa notícia das concessões de terminais, que interessam bastante ao grupo”, diz Randall Saenz Aguero, um costa riquenho de 37 anos, diretor de investimentos para a área de transportes aéreos da OTP.



Aguero foi chamado pela Odebrecht para estudar as oportunidades neste mercado e preparar a estreia da companhia como administradora de terminais. “Nossa experiência na construção de aeroportos nos deu amplo conhecimento do segmento”, diz. “Operá-los, então, não será nenhum problema para o grupo”. Recentemente, a Odebrecht participou da ampliação do aeroporto de Trípoli, construiu o terminal norte e sul de Miami e a segunda pista de pousos e decolagens do aeroporto de Abu Dhabi, além de conduzir a reforma de terminais em Nacala, Moçambique. No Brasil, sua obra mais recente foi a de ampliação do aeroporto de Recife.

Segundo o executivo, o modelo de concessão de terminais à iniciativa privada vem funcionando bem em vários países. “Na Índia e na Rússia há bons exemplos de privatização, assim como na Colômbia, no Peru, no Equador e na Argentina. Isso sem contar os casos de sucesso no mundo desenvolvido, em aeroportos do Reino Unido, Holanda ou França”, afirma Aguero. “Trata-se de um bom caminho para resolver os gargalos do Brasil, desde que não haja um monopólio privado na operação de terminais”.

O texto da medida provisória que prevê a privatização dos novos terminais também inclui a abertura de capital da infraero e a criação de uma secretaria ligada à Presidência da República para cuidar da aviação civil. Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, é o mais cotado para assumir a pasta.

Estudo da McKinsey revela que o Brasil precisaria mais do que dobrar a capacidade de seus principais aeroportos até 2030. Confira nas tabelas abaixo

Projeção da demanda (em milhões de passageiros/ano)

2009  2014 2020  2030 
Doméstico 98 129 172 273
Internacional 13 17 23 39
Total  111 146 195 312
Fonte: Infraero, ITA, McKinsey

Capacidade atual dos aeroportos (em milhões de passageiros)
São Paulo* 36
Rio de Janeiro** 27
Brasília 10
Belo Horizonte 10
Outros 47
* inclui Viracopos, Guarulhos e Congonhas
** Inclui Santos Dumont e Galeão
Fonte: Infraero, ITA, McKinsey
Fonte: Época Negócios