Ciente de que a Oracle tem ignorado deliberadamente seus próprios termos de licença da tecnologia Java, a Apache Software Foundation tem conclamado outros membros do Java Community Process (JCP) a votar contra a proposta da próxima versão da linguagem, caso a Oracle insista em impor restrições ao uso do Java de código aberto. A organização sem fins lucrativos também sugeriu que poderia abandonar o grupo JCP se essas restrições de licenciamento continuarem em vigor.
“Por que iríamos querer fazer parte de uma organização na qual as regras da lei não se aplicam? Nossa presença no comitê executivo da JCP seria uma vergonha. Isso mostraria que a comunidade não tem importância, que nós basicamente nos acomodamos à ação da Oracle de empurrar as coisas sobre nós, sejam ou não benéficas à comunidade”, disse Jim Jagielski, presidente e cofundador da Apache Software Foundation (ASF), em uma entrevista ao IDG News Service. Esta não é uma batalha nova para a ASF, nem para o JCP. A questão tem sido tão contenciosa que tem atrasado o processo de votação da próxima versão do padrão Java, o Java 7. Mas as linhas dessa batalha foram redesenhadas recentemente e a discussão sobre o papel do JCP em si atingiu um ponto de fervura.
Apoio de 95%
Em outubro, a ASF foi ratificada para outro mandato de três anos no comitê executivo do JCP, por uma ampla margem de 95%. Agora, a ASF espera usar sua influência para conseguir com que a Oracle abandone as restrições chamadas Field-of-Use (FOU) que o antigo dono da marca Java, a Sun Microsystems, aplicou à tecnologia. A Sun foi comprada pela Oracle em janeiro de 2010. Foi uma vitória em um mês difícil para a ASF. A IBM anunciou a transferência do suporte ao desenvolvedor da versão open source do Java Standard Edition da própria Apache (chamada Projeto Harmony) para outro projeto open source, o OpenJDK.
A IBM foi uma das mais leais apoiadoras da posição da Apache sobre as restrições FOU, e sua mudança para o OpenJDK sugere pelo menos que a empresa poderia dar apoio à Oracle em uma futura votação sobre o Java 7, especulou Jagielski. Se isso ocorrer, a Big Blue se juntaria a diversas outras organizações propensas a deixar a Oracle seguir seu rumo pelo bem da linguagem como um todo, incluindo a Red Hat e a Eclipse Foundation. A batalha também envolve se as restrições deveriam ser aplicadas ao modo como as versões open source de Java são usadas.
Java móvel
Sob o acordo de participação na especificação Java do JCP, a ASF pode desenvolver e distribuir um kit de teste para o ambiente de execução da Java Standard Edition. Jagielski disse que depois que o acordo foi fechado, no entanto, a Sun impôs restrições adicionais, chamadas de Field-of-Use (FOU), que proíbe o uso do software em plataformas móveis (que presumivelmente faria sangrar as vendas de licenças da própria oferta de Java móvel da Sun). Ironicamente, a Oracle protestou junto à Sun sobre a restrição adicional, mas desde que comprou a Sun mudou de opinião.
A ideia de uma restrição FOU é um “anátema” ao uso de open source, disse Jagielski. Ela também traz em debate o trabalho da organização no Projeto Harmony. “Todo software que desenvolvemos e codificamos está sob a licença Apache, que é uma licença de software open source”, disse Jagielski. Para continuar a gerenciar o Projeto Harmony com as restrições atuais, “nós teríamos que desenvolver código que não seria subordinado à licença Apache”, disse. Como resultado, “a maior questão para nós agora é se o Harmony tem um futuro”, disse Jagielski. Por sua vez, sem o Projeto Harmony, o envolvimento da Apache no JCP apareceria no mínimo sem sentido, e no máximo enganador.
Principal ativo
A Oracle, evidentemente, vê valor no licenciamento comercial do Java. O CEO Larry Ellison chamou o Java de principal ativo na compra da Sun. Em agosto, a Oracle processou a Google pelo uso de Java no Android. Pensava-se que os engenheiros da Google tivessem usado algum código do Projeto Harmony, mas a ASF descartou essa possibilidade. Se por um lado a ASF trava o avanço do Java, votar a favor do Java 7 com as restrições da Oracle em vigor poderia colocar a ASF em uma posição delicada, disse Jagielski.
“Nós não nos juntaríamos a uma organização que nos impedisse de desenvolver software que não poderia ser lançado sob a licença Apache. A restrição de distribuição não é compatível. Para a Apache, esse é o cerne do problema”, disse. A decisão de permanecer no JCP dependerá de quanto apoio a ASF poderá obter. “Se o Java 7 for recusado, isso significa que ainda há alguma briga em torno do tema, que o JCP ainda pertence à comunidade. Nesse caso, nós continuaremos nele e manteremos a lutar a boa luta”, afirmou.
A Oracle recusou-se a comentar as declarações.
Fonte: IDG NEWS SERVICE/NOVA YORK