“Quando eles [desenvolvedores que trabalham na empresa] me perguntam se precisam fazer faculdade, eu digo que podem fazer, mas os oriento a procurarem uma área diferente, como Matemática, Física, Meteorologia, Economia ou Administração de Empresas. Com essas formações, desenvolverão raciocínio, lógica etc.”.
Para Masi, não basta o candidato dizer que se formou na universidade em um curso de tecnologia. É preciso comprovar o conhecimento. “O mais importante é o portfólio. É o que o mercado valoriza, verdadeiramente. Não adianta dizer que conhece e que estudou nessa ou naquela universidade. Precisa é ter aplicativos publicados, comprovar iniciativas importantes realizadas. Não só para desenvolvedores de aplicativos, mas para qualquer área”, afirma.
A FingerTips, diz Masi, só exige formação superior convencional para cargos como arquiteto de informação ou gerente de projetos. Apenas para essas funções, a empresa busca gente graduada e pós-graduada. “A melhor forma de conseguir emprego é mostrando que sabe fazer. Eu vejo na Apple Store um trabalho publicado, convido o autor para almoçar e faço a proposta para trabalhar conosco. Eu nem pergunto de curso superior. Pelo nível do teste eu o contrato. Tenho os três maiores programadores de iPhone no país. Eles preparam aulas e as ministram aos demais funcionários”, revela. Uma das razões para que o “canudo” caísse no conceito de muitas empresas é que os cursos superiores de tecnologia não conseguem acompanhar as necessidades do mercado. “O pessoal dá teoria, método, mas falta atualização com aquilo que o mercado pede. Os professores têm de se reciclar. Eles dão CS3, CSS e nada de HTML5. A faculdade de TI tem que se reformular. Tem uma em cada esquina, e os alunos só estão em busca de diplomas. Na OAB, ao menos há um filtro”, reclama Masi.Outra empresa que também vem investindo na contratação de profissionais sem exigência de nível superior é a Tata Consultancy Services Brasil. Dependendo da complexidade e senioridade da posição, contratamos pessoas com curso superior ou em andamento, mas no geral damos oportunidades para profissionais sem nível superior, que possuam cursos e certificações em nível técnico profissionalizante”, revela a gerente de RH, Elizabeth Loureiro.
A mesma estratégia é adotada na Essence, empresa de consultoria e outsourcing, especializada em TI para negócios, que não tem nenhum problema em contratar alguém que não tenha diploma de graduação na área. “Cada vez mais o mercado de tecnologia fica competitivo e escasso de profissionais qualificados nas mais variadas tecnologias que surgem a cada momento no mundo. Com as deficiências do ensino e a falta de políticas educacionais de investimento nas formações técnicas e de nível superior para novos talentos, muitas empresas são obrigadas a avaliar profissionais que não tenham formação superior, mas que, em conjunto, possuam em seu background boas competências técnicas e certificações técnicas”, afirma Cláudio Tavares, diretor de RH. “Ao avaliar um profissional que não tenha formação superior, exigimos competências técnicas comprovadas e cursos específicos nas tecnologias solicitadas”, complementa.
Já Marcello Zappia, diretor de desenvolvimento organizacional e humano da Tivit, conta que a companhia possui políticas de RH diferenciadas e bem definidas. Segundo ele, a empresa avalia o seu futuro colaborador sob três pilares: conhecimento técnico, conhecimento acadêmico e competências comportamentais.
“A formação acadêmica é muito importante e, de acordo com a posição ou nível de maturidade da oportunidade, é condição para participar do nosso processo seletivo. Porém, o próprio mercado já abre possibilidade aos tecnólogos - curso com duração de 2 anos -, bem como aos profissionais em formação. Em alguns casos, o conhecimento técnico - adquirido por certificações e cursos focados em ferramentas - e a experiência no mercado podem ser suficientes”, afirma Zappia, que defende as parcerias entre as universidades e as empresas.
“É muito importante que as instituições de ensino tenham essa proximidade com as empresas para entender às necessidades do mercado de trabalho. Com essa prática, as universidades podem adaptar a sua grade curricular às expectativas do mercado”, avalia. Empresas qualificam formados Cláudia Rolim, gerente de RH da GVT, diz que a companhia ainda segue o modelo convencional e só contrata quem tenha formação superior. Apesar disso, a executiva sofre com as carências de quem estudou tecnologia nas universidades. “Infelizmente, os cursos não atendem à demanda, não apenas da GVT, mas do mercado de TI em geral. É preciso que as universidades aproximem-se mais da realidade das empresas. Muitos profissionais formados carecem de conhecimento”, lamenta. A fim de minimizar essas deficiências daqueles que saem dos bancos universitários, a empresa investe em um programa próprio de qualificação, revela Cláudia: “a GVT desenvolveu o EDUTEC, programa de educação tecnológica desenvolvido desde 2007 com a intenção de complementar a formação acadêmica dos seus futuros profissionais. Por meio dele, os estudantes têm a possibilidade de realizar treinamentos, trabalhar em um ambiente com acesso à tecnologia de ponta e receber um acompanhamento personalizado para o seu desenvolvimento profissional.”Sandra Mara Garbo, gerente de recrutamento para áreas de serviços da IBM, diz que a empresa possui as duas situações: contrata gente sem nível superior, mas também profissionais com diploma. “Para suporte, help desk e vagas auxiliares, não exigimos nível superior, mas para funções como especialistas de sistemas, gerentes de projetos e arquitetos de soluções, é uma norma global da IBM de exigir nível superior”.
Cláudia também vê problemas na formação educacional dos profissionais e, entre as carências, chama atenção para a falta de conhecimentos da língua inglesa por parte dos candidatos a uma vaga de emprego na companhia. “Percebemos nos profissionais formados uma carência em gestão de projetos e pessoas, em negociação, mas a principal deficiência mesmo é no inglês. Deveriam investir no ensino técnico do inglês técnico nas universidades”, diz Sandra.
“Hoje, a gente tem profissionais da IBM dando cursos complementares nas universidades em áreas que elas não ministram, como mainframe”, diz. Embora também compartilhe da opinião de que o ensino de TI tem muitas deficiências, Maria de Fátima Albuquerque, diretora de relações humanas da Totvs, defende a contratação de gente proveniente dos bancos universitários. E, como GVT e IBM, também se vê obrigada a investir em complementação de conhecimentos. “Quando faltam algumas competências técnicas, a Totvs complementa. Infelizmente, temos um problema da geração de achar que está pronta para assumir equipes e liderar projetos. Vejo mais como uma questão de maturidade que precisa desenvolver e que a faculdade não dá”, aponta.Fonte: artigo de Rogerio Jovaneli para a Exame.com