quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Construtoras querem áreas de estádios para lançar condomínios

A possibilidade de aproveitar áreas de estádios para empreendimentos residenciais de alto padrão aproximou construtoras e clubes. Localizados em bairros nobres e com áreas extensas, esses terrenos são de alto valor para o setor imobiliário. A realização da Copa no Brasil aumentou a necessidade dos clubes por estádios mais modernos e viabilizou negócios neste ano. Em Porto Alegre, Grêmio e Internacional negociaram neste ano terrenos de estádios para levantar recursos para reforma ou construção de espaços mais modernos.

A contagem regressiva para o fim das partidas de futebol no estádio Olímpico começou nesta segunda-feira, quando o Grêmio iniciou as obras da sua nova Arena. Assim que o projeto estiver pronto, o Olímpico deixará de ser a sede do tricolor gaúcho e se tornará o endereço residencial de 1,6 mil famílias. Usado como parte do pagamento à OAS pela construção da Arena, o terreno do atual estádio do Grêmio vai abrigar um empreendimento de alto padrão, que terá unidades residenciais e um shopping center.



O negócio entre o Grêmio e a OAS envolve cifras bilionárias e uma estrutura societária complexa. O Grêmio receberá da OAS um estádio novo, em área quatro vezes maior que a do atual, sem desembolsar nenhum centavo do seu caixa e sem contratar financiamento em seu nome. O clube pagará o projeto com o terreno do estádio Olímpico, avaliado em R$ 60 milhões, e com parte da receita da nova Arena nos próximos 20 anos após a sua inauguração.

O Grêmio decidiu construir outro estádio após a consultoria Amsterdam Arena apontar que era uma opção mais viável do que a reforma do Olímpico. “O estádio é antigo e dá pouco lucro, porque tem um alto custo de manutenção”, afirma Adalberto Preis, presidente da Grêmio Empreendimentos, empresa do clube que gerencia o projeto. A estimativa de Preis é que o time receberá, em média, R$ 32 milhões por ano com a receita da Arena nos próximos 20 anos, valor maior do que obtém com o Olímpico, dado não informado pelo time.

Dois projetos imobiliários

A OAS investirá R$ 475 milhões na construção da Arena, R$ 250 milhões com recursos próprios e o restante com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de acordo com o diretor da OAS Empreendimentos no Rio Grande do Sul, Carlos Eduardo Paes Barreto Neto. A expectativa dele é que o projeto dê um retorno de 15% ao ano. Os ganhos da OAS serão com dois empreendimentos imobiliários e com parte da receita da Arena.

A Arena será construída no bairro Humaitá, mais distante do centro de Porto Alegre do que o bairro Azenha, onde fica o Olímpico. Além do estádio, o complexo incluirá shopping, hotel, centro de convenções, edifício-garagem e edifícios residenciais. Segundo o executivo da OAS, o custo total da Arena e de seu entorno chegará a R$ 1 bilhão, mas, apenas com a venda das 2,2 mil unidades residenciais do complexo no bairro Humaitá, a empresa deve recuperar R$ 500 milhões.

Após a entrega da Arena, a OAS começará a construção de outro empreendimento no terreno do Olímpico. O projeto ainda não está definido, mas deverá contemplar outro shopping e um complexo residencial de alto padrão com 1,6 mil apartamentos. Apenas o valor geral de vendas (VGV, soma do potencial de venda de todas as unidades) da parte residencial pode chegar a R$ 800 milhões.

Condomínio no Eucaliptos, do Internacional

O Internacional também fechou um negócio recente com uma empresa imobiliária. O time gaúcho vendeu neste mês o antigo estádio Eucaliptos para construtora Melnick Even, por um valor próximo a R$ 30 milhões, segundo o vice-presidente de finanças do clube, Pedro Affatato.

O Eucaliptos sediou os jogos do Internacional entre 1931 e 1969 e recebeu duas partidas da Copa de 1950, realizada no Brasil. Desativado, o estádio gerava um prejuízo mensal de até R$ 30 mil para o Internacional, de acordo com Affatato. “É uma área nobre que não justificava mais investimentos para futebol. Vendemos para investir no Beira-Rio”, diz.

O anúncio de que a área estava à venda promoveu uma corrida entre as incorporadoras gaúchas. A área soma 22 mil metros quadrados, em um bairro com preço médio do metro quadrado de R$ 5 mil. O edital da concorrência aberta pelo time para escolher o comprador foi retirado por onze empresas e cinco delas encaminharam uma proposta. “Uma área à venda com essa dimensão em um bairro nobre é uma oportunidade única, que ocorre a cada 30 anos”, afirma Juliano Melnick, diretor da empresa vencedora.

No local, a empresa pretende construir um empreendimento com cerca de 500 unidades residenciais e comerciais, que pode atingir R$ 200 milhões em VGV. A assinatura do contrato de compra da área será no final de mês e o lançamento ocorrerá em 2011.

Fonte: LicitaMais